CAPÍTULO XXXII
Fala Maria, a mãe de Jesus
A minha palavra não pode acrescentar a menor
importância a esta obra, pois ninguém ignora que fui elemento
completamente negativo para a missão de meu filho Jesus.
Cedo, entretanto, ao pedido do médium e direi o que possa
ser de interesse com referência ao assunto.
Na realidade, era tão pobre a educação da mulher hebréia
que dificilmente se teria podido encontrar alguma, capaz de
avaliar o significado do que o pretenso profeta, como eu o
chamava, manifestava com suas palavras, com sua ação e com seu
exemplo. Entre os homens, tampouco havia-os verdadeiramente
preparados para compreendê-lo. Eu pensava que meu filho estava
louco e todos os da família acabaram por pensar do mesmo modo.
Sobre isto, pois, mal posso dizer algo de útil e falarei de
preferência do que mais tarde observei em torno da atuação de
meu filho.
O martírio e a morte de Jesus, a fé ardente dos apóstolos e
a influência de João, iluminaram meu espírito, convertendo-se na
minha mente transformada, a vítima inocente em um Semi-Deus, e
não coube já em meu espírito a menor dúvida a respeito de tão
grandiosa manifestação do amor do Pai sobre seus filhos, os
homens todos da criação; isto, porém, se bem significava grandes
realidades para minha pobre alma tão cheia de escuridão mental,
fora de mim mesma, não podia representar um grande progresso
porque na Natureza não se dão saltos, senão que tudo se encadeia
logicamente; a luz que se fez assim, então, na minha alma, brilhou
no fundo de minha consciência, servindo-me de guia em todas as
minhas idas terrestres. O grandioso mito que se fez de Maria entre
os Cristãos mais tarde, nada, absolutamente nada tem de real.
Fui sempre mulher, menos em uma ocasião, que me
ensaiei no sexo masculino; foi a vez que mais comodamente
passei, porém que me resultou de pouco progresso para o meu
desenvolvimento espiritual. Eu sentia-me sempre inclinada a ser
mulher e distingui-me quase sempre por minhas inclinações
religiosas, sendo que também fui monja, chegando a ocupar uma
invejável posição nesse meio, havendo eu cultivado um pouco
minha inteligência, o quanto então era possível a uma mulher
religiosa. Em verdade, recentemente, na minha última estada na
Terra, na qual de muitos dos hebreus fui reconhecida, pois poucos
anos faz que novamente regressei ao mundo dos espíritos, então
adquiriu verdadeiro desenvolvimento a minha inteligência,
completamente livre já de todos esses prejuízos causados pelo
fanatismo religioso que constitui um obstáculo quase invencível
para o progresso humano. Certamente que de amigos, recebi
constantemente, dentro de uma boa direção, uma proteção
invisível à qual correspondia até onde era possível, aos planos
formados de antemão no espaço. Nunca cessou o labor cristão,
sempre do alto, pelo próprio Mártir do Gólgota que aí selara com
seu sangue os sublimes ensinamentos ensinados já por ele, com a
palavra e o exemplo.
Sem dúvida, seguidos foram os obstáculos com que o
magno labor tropeçou na Terra devido à falta de capacidade de
seus enviados para a transcendental tarefa.
Muitos e repetidos foram os ensaios, constante o esforço e
continuada a luta, porém faltou a unidade de ação, essa unidade
que anteriormente fácil alcançar ao Mestre pela mediunidade de
Paulo que, submetendo-se a Jesus no caminho de Damasco, nunca
lhe faltou durante esses tempos, comunicando com bastante
exatidão ao homem a sua palavra principalmente nas etapas
subseqüentes, não que diminuísse a mediunidade do Apóstolo,
mas sim que lhe foi adverso o ambiente e em nenhum caso o
favoreceram as circunstâncias, o referente, ao menos, como que
para dar lugar à clareza e segurança das manifestações a que agora
alcançou, devido em grande parte às suas recordações
retrospectivas que lhe servem de sólida base para não esmorecer
em sua tarefa, apesar da incredulidade e oposição dos próprios
cristãos que pensam que São Paulo havia de apresentar-se-lhe
como um ser extraordinário, uma personalidade rodeada de
portentos e milagres, não já um homem como os demais, muito
mais desprendido, que a generalidade, o material e convencional,
principalmente no cumprimento de sua missão, porém sem
transparecer nada que possa fazer dele um ser superior.
A tradição cristã, muito exagerada quanto ao valor dos
homens, converteu os apóstolos, que eram sumamente humildes
de posição e compreensão, em personagens de grande valia, isto é
e foi a causa de muitos erros. Estes homens eram unicamente
extraordinários por sua fé, sinceridade e vontade ardente assim
como por seu grande amor ao Mestre, porém se houvessem tido
suficiente adiantamento que lhes permitisse recordar o passado,
durante suas encarnações, não teria faltado ao Cristianismo a
unidade no esforço e na direção única, que só de Jesus podia vir.
Pelo contrário, nem bem retornados à vida humana, esqueciam
todas as suas promessas e toda a noção sobre o verdadeiro
propósito e fins precisos de sua missão, vendo-se geralmente,
devido a isto, lutar em campos opostos, como sucedeu durante a
reforma, em que ambos os campos conduziam-se mal, e muito
antes também com as heresias e os trabalhos do livre pensamento.
Muito difícil é e somente por exceção, em muito reduzidos
casos, pode ter lugar a recordação das vidas sucessivas devido a
que a memória do homem reside essencialmente no cérebro,
podendo recordar, por conseguinte, somente os acontecimentos
que se tenham gravado nele durante cada vida. Por isso não se
recordam os sonhos que eu diria verdadeiros, quero dizer, aqueles
em que, encontrando-se o corpo completamente dormido, vive
unicamente a vida vegetativa e não pode o espírito fazer uso de
nenhum de seus órgãos por cuja razão se vê obrigado a agir sem o
corpo; de maneira que, exteriorizadas todas as suas atividades,
porque o espírito nunca pode ficar inativo, resulta viver longe do
corpo por meio do corpo que lhe é próprio e dos fluidos que tira
do corpo e que o mantêm unido a ele, assim como a esse meio
especial resultante das atividades de todas as pessoas dormidas
também exteriorizadas, que pensam e recordam sem os
empecilhos do cérebro, porém, sem deixar, em compensação,
neste as impressões que constituem a recordação para o homem;
os médiuns e os “mãos Santas”, alcançam cousas imensamente
mais portentosas que os profissionais do magnetismo, devido à sua
maior fé e em geral mais elevados sentimentos. Mas, volvamos
aos propósitos destas linhas.
Encontrando-me, como disse, ao corrente de todos os
esforços de Jesus para restabelecer a verdade e pureza de suas
doutrinas, chegando a ser, muito cedo, eu mesma uma de suas
colaboradoras, tive constantemente o pesar de ver desbaratados
seus planos pela razão cruel do completo esquecimento de todo o
propósito tomado na vida espiritual, pelos que voltavam à Terra
onde seguiam geralmente rotas opostas às que haviam escolhido.
Contudo, o esforço que cada qual fazia para ser virtuoso, a oração
e a fé em Deus, assim como a experiência paulatinamente
acumulada, foram-lhes dando maior consciência de todas as
cousas. Compreenderam que para dominar o ambiente fluídico,
sem o qual nada se alcança, são necessárias também a saúde e as
forças físicas, tendo se empenhado em seu desenvolvimento,
principalmente Marcos, Mateus e Paulo; Pedro e João trabalharam
mais no sentido extracorporal. Deveis saber que a saúde e a força
física dependem em parte do desenvolvimento do corpo astral, e
como nada se perde, tampouco perde-se o desenvolvimento que
em cada vida alcança o homem para seu corpo, pois a envoltura do
espírito ao separar-se do corpo material, leva consigo todo o
melhoramento, toda a aptidão adquirida e até a tendência para
adquirir ou vencer as enfermidades de que sofreu o corpo e pôde
vencer. Deste modo, melhor preparados, os Apóstolos sempre sob
a direção do Mestre lograram promover, no século XIX, um
grande renascimento religioso, principalmente em Norte América,
na esperança de poder derivar dele um progresso suficiente da
religião para voltar à pureza do primitivo cristianismo. Muito
depressa, porém, se aperceberam que as preocupações de raça e de
seita dominante naquele ambiente não se prestavam para levar a
cabo tal propósito. Dirigiram então suas vistas para a América do
Sul.
Todos os apóstolos, menos Pedro e João, tinham voltado à
Terra. Os apóstolos não se reconheceram entre si, menos Paulo,
que bastante titubeou no princípio de sua missão, chegando até a
ridicularizar a Jesus, apesar de ser de temperamento muito
religioso, Paulo os foi reconhecendo a todos mais tarde, devido ao
grande desenvolvimento que em sua atual vida alcançou pela
mediunidade, da qual precisamente se serviu Jesus para ditar a
presente obra e com a qual se restabelece a primitiva pureza
Cristã, livre de toda a fraude. Esta mesma exposição que faço
demonstra que o verdadeiro desenvolvimento do cristianismo é
devido ao esforço dos apóstolos e seus discípulos sob a direção de
Jesus sem nada de milagroso nem de sobrenatural; inculcando,
isso sim, ainda que lentamente e de forma que cada qual vá
compreendendo por si mesmo, que existem grandes
potencialidades no espírito que ele deve desenvolver,
principalmente pela virtude e os sacrifícios, potencialidades que
chegarão a fazê-lo senhor da Natureza.
Para abreviar, direi: que Pedro e João, do espaço,
conseguiram estabelecer em meados do século XIX, um núcleo
importante em Buenos Aires. Esse importante núcleo foi quase
constantemente presidido por Santo Estêvão, eleito para o lugar
por sua fé, constância e laboriosidade inquebrantável, apoiado por
uma moralidade sem jaça, secundando-o muito de perto José de
Arimatéia, que também nesta ocasião ajudou a Jesus com sua
posição social distinta e opulenta, pois que, como já vos disse,
nada se alcança por milagre, sendo que entre os homens e para
todo o labor humano, necessários são meios humanos e ainda
quando feito foi pelos esforços do Messias a aproximação do Céu
à Terra, sempre que a esta se deve chegar, por meios terrestres o
temos de fazer.
Santo Estêvão também desfrutava de uma posição social
distinta e pecuniariamente desafogada, assim como o evangelista
São Mateus, porém, realmente opulento unicamente o era José de
Arimatéia. São Mateus distinguiu-se principalmente por sua
eloqüência, com a qual chegou em diversas ocasiões a comover os
mais elevados da Sociedade de Buenos Aires. Barnabé
desempenhava as funções de tesoureiro e ao mesmo tempo de
vigilância da associação; direi seu nome, como o mais modesto e
menos conhecido que os dos anteriores; vou dá-lo para que possa
servir de base para o conhecimento a que alguém possa chegar, do
fato que nos ocupa: chamava-se José Rodríguez e era espanhol.
Paulo, muito jovem ainda e conduzido inconscientemente
do espaço por Pedro e João, apresentou-se à Associação que, se
bem que fundada em sua origem somente por doze membros,
muito numerosa havia chegado a ser naquela ocasião, porém,
cousa curiosa, repetiu-se a desconfiança e o temor que houve antes
quando os apóstolos não quiseram recebê-lo, renovando três
vezes, inutilmente, seu intento até que Barnabé, o mesmo que
antes, o apresentou pessoalmente. Paulo levou depois Marcos, não
o apóstolo, mas sim o discípulo de Pedro, o mesmo que com
Barnabé o acompanhara em sua viagem a Roma aonde ia
evangelizar o Ocidente em nome do Senhor. Ambos foram muito
queridos, como já o era Barnabé, por sua laboriosidade e
constância apesar de, do mesmo modo que na época evangélica,
Paulo ter atuado mais fora da associação que dentro dela.
O apóstolo Marcos permanecia então no espaço; digo
espaço, porque se bem que tudo existe dentro do espaço, os
homens formam parte da Terra e não se encontram diretamente no
espaço; refiro-me pois, ao dos espíritos. A Paulo, por sua
mediunidade, nunca lhe faltaram sinais e até conversações do
mundo dos espíritos, mas temia por não ver nada perfeito nos
demais homens, e por outra parte Pedro e João invisivelmente o
velavam para evitar todas as comunicações até que seu tempo
chegasse; porém, tão depressa conseguiram cercá-lo dos meios
que dentro da associação lhe serviam como elementos da força
para lutar contra os espíritos do mal que se empenhavam
violentamente em destruir a sua obra, Paulo pôde ser desenvolvido
por eles com segurança, dando-lhe paulatinamente a recordação do
passado para que pudesse ter melhor consciência da obra que lhe
estava encomendada, pois de outro modo, devido a seu espírito
investigador e demasiado positivo, qualidades que já
anteriormente haviam embaraçado suas intimidades para com os
apóstolos, a sua obra não podia ser conduzida dentro de uma
associação de um caráter um tanto místico e porque o regulamento
proibia todo o trabalho medianímico, fora da sede da associação e
qual não estivesse sob a imediata direção da Comissão espiritual
que se havia constituído para dirigir do espaço os trabalhos de tal
natureza, que tantos perigos entranham no homem. Paulo foi
amplamente autorizado a trabalhar fora da sede da Associação,
assegurando-se-lhe toda a proteção espiritual possível.
As lutas e dissabores que teve que sofrer Paulo por sua
obra são pouco menos que indescritíveis, salvando-o seu poder
excepcional, a ajuda e perícia de seus protetores invisíveis que o
rodeavam de dia e de noite, com uma dedicação e denodo
incomparáveis.
Grande parte de sua obra permanece desconhecida, porém
seus efeitos propagam-se já por todas as partes e José, o que foi
meu esposo, não permaneceu muito tempo no seio da tal
agremiação, devido a seu caráter um tanto duro e orgulhoso, ainda
não modificado suficientemente desde aqueles tempos. Era
entretanto bastante laborioso e culto para poder prestar bons
serviços à idéia e o fez, ainda que fora do núcleo.
Tadeu, que ainda está entre vós,1 no ano de 1905, recebeu
da Itália, sua terra natal, a Vida de Jesus ditada por Ele mesmo,
traduzida do francês para o seu idioma, e a “Sociedade Científica
de Estudos Psíquicos”2 fê-la traduzir para o castelhano,
encarregando-se deste trabalho o seu próprio Presidente, que
conhecia bem esse idioma por haver feito os seus estudos na Itália.
O segundo tomo foi ditado depois ao médium X.X.,
instado para isso, por Jesus, em repetidas ocasiões. Depois de uma
aparição de Jesus ao médium, além de diversas notáveis
manifestações, foi que ele acedeu, plenamente convencido da
intervenção direta do Mestre.
Recebeu-se então a comunicação, cercando-a de um
controle muito grande e rigoroso, razão por que demorou tanto a
completar-se a segunda parte, recentemente terminada, com a
adição de dois novos capítulos, o XXV e o XXVI, e a presente
comunicação.
Também as outras mulheres seguiram, como eu, prestando
a sua cooperação à grande obra iniciada por Jesus há quase dois
mil anos, encarnando elas também, de preferência, no sexo
feminino. Salomé fez parte do núcleo durante a maior parte de sua
vida, prestando importantíssimos serviços com sua mediunidade.
E seu filho Tiago ajudou Paulo com muito interesse e
carinho, com outros dois apóstolos que não vou nomear. Marta
evangeliza na cidade de Córdova, e Madalena trabalha também
com afinco dentro e fora do núcleo, nesta capital. Eu também
cooperei neste grande movimento, consagrando-lhe a maior parte
de minha última existência e mantendo estreitas relações, desde
Espanha, com o núcleo de Buenos Aires. E foi esta a época de
1 - Recentemente voltou ao mundo espiritual. — Nota do Sr. Rebaudi.
2 - De Buenos Aires.
maior luz para o Cristianismo definitivamente libertado de todo o
dogmatismo que Jesus sempre combateu fora de toda a religião,
porque o Cristianismo é a religião. Os discípulos dos discípulos do
Senhor, espalhados por todo o mundo, levam a boa nova por todos
os âmbitos do Globo, fazendo estremecer os templos idólatras,
desde os seus alicerces, para que se compreenda a idéia de Jesus,
que se reconheça o universo inteiro como o templo digno do
Altíssimo.
Louvores a Jesus a quem tudo isto é devido! Jesus é um
irmão nosso, é um dos nossos disposto sempre a aproximar-se de
todo aquele que sinceramente o chame, mas por sua elevação e por
sua alta missão, o chamamos: O Senhor, sem fanatismo, apenas
como sinal de amor e gratidão pela obra de seu imenso amor.
Em seu nome despede-se de vós e vos abraça.
MARIA
Continuação...
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